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Semana Municipal da Inclusão Escolar

Semana Municipal da Inclusão Escolar

No dia 08 de agosto, a Escola Frei Pacífico participou do Fórum pela Inclusão Escolar, onde a professora Juliane falou sobre a inclusão e de como esse processo ocorre dentro da Escola, confira na íntegra o seu discurso:

Boa tarde!

Cumprimentando a presidência da mesa, saúdo a todos e a todas.

Meu nome é Juliane e este é o meu sinal (...).Nasci surda em função da minha mãe ter contraído rubéola na gestação. Ainda criança mudamos para Sapiranga-RS motivados pela possibilidade de estudar em uma escola especial para surdos. Aprendi falar português pela insistência e paciência do meu pai. Quando meu pai morreu em tinha 11 anos e, como muita força de vontade e persistência,  passei a buscar sozinha  melhorar o meu português falado. Fiz o Primeiro Grau na Escola Especial para Surdos São Mateus (Sapiranga) e o Segundo Grau Magistério (Inclusão Social) em turma que tinha 5 surdos, numa proposta de inclusão.

Iniciei minha vida profissional no magistério na mesma Escola onde fiz o Primeiro Grau. Desenvolvi Cursos de Capacitação de LIBRAS em vários locais (empresas, escolas, institutos e universidades) e, em 2013, tive a felicidade de Conhecer a Escola Especial para Surdos Frei Pacífico já na condição de colaboradora. Atualmente estudo Curso de LETRAS/LIBRAS na UFSC – Polo de Santa Rosa/RS.

Na minha trajetória de vida aprendi que conviver com o diferente é fundamental para o crescimento do indivíduo e, portanto, não deveria ser preciso falar em educação inclusiva, mas sim em EDUCAÇÃO – que deveria ser de qualidade para todos acolhendo a diversidade e estimulando o respeito ao outro. Os educadores deveriam ser preparados para trabalhar com as potencialidades e não com as deficiências dos alunos. Aproveitar as múltiplas inteligências, capacidades e habilidades, promove a inclusão com aprendizagens mais significativas, tirando o foco das limitações no aprendizado.

A Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva propõe uma mudança de paradigma que ultrapassa as fronteiras da Educação no que diz respeito aos conceitos de inclusão social como um todo. Hoje ainda constatamos que escolas e sociedade não estão preparadas para a diversidade.

A Declaração de Salamanca afirma que todas as crianças tem necessidades e aprendizagens únicas e que os Sistemas Educacionais devem implementar programas considerando essa diversidade e desenvolvendo uma pedagogia centrada no educando. Portanto, Sistemas Educacionais inclusivos devem acolher a todos independente das suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais linguísticas, entre outras especificidades, quebrando o ciclo da exclusão.

Observa-se, portanto, que há um distanciamento entre a lei e a prática da lei. É preciso repensar o sentido que se está atribuindo à educação e ressignifica-la visando mais a qualidade do aprendizado do que os resultados quantitativos.

Os movimentos sociais buscam a transformação dos Sistemas Educacionais na construção de projetos pedagógicos que contemplem as diferenças e ampliem o atendimento educacional especializado, eliminando as barreiras de acesso ao currículo; uma gestão de educação que respeite o espaço das Escolas Especiais e o direito das famílias e alunos escolherem a escola em que desejam estudar – a escola regular não pode ser imposta como a única possibilidade para os educandos com deficiência, principalmente quando não está preparada para acolher esses educandos.

As Escolas especiais, como a Escola Especial para Surdos Frei Pacífico, é uma escola também inclusiva porque atende crianças e adolescentes surdos com outras deficiências e está estruturada para atender as especificidades desses educandos - nessa Instituição estão organizados três espaços de atendimento aos educandos e suas famílias: Escola (espaço de Educação Bilíngue, norteado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais), Clínica (espaço de atendimento  clínico de pessoas surdas e ouvintes) e Centro Social (espaço de projetos sociais que promovem a convivência, o fortalecimento de vínculos, o exercício da cidadania e a inclusão social).

Na Escola todos os profissionais (surdos e ouvintes) são fluentes na Língua de Sinais e o acesso ao currículo se dá através dessa língua (primeira língua) e da Língua Portuguesa escrita (segunda língua).

Na Clínica os educandos e suas famílias recebem atendimento de uma equipe multiprofissional: estimulação precoce, exames audiológicos, consulta médica com otorrinolaringologista, avaliações e atendimentos fonoaudiológicos, psicológicos e psicodiagnósticos.

O Centro Social, através do projeto “Mãos que sinalizam vida” desenvolve oficinas para crianças e adolescentes Surdos: Sinalização de Hinos, Teatro, Informática e Reciclagem Manual de Papel (em parceria com a FASC). Também no Centro Social são oferecidas oficinas para as famílias: Artesanato, Gastronomia e Curso de LIBRAS. O Curso de LIBRAS também é oferecido à comunidade em geral.

Como dizer que uma Escola que assim está estruturada para receber alunos surdos e alunos surdos com outras deficiências é uma escola segregadora se nesse espaço convivem de forma harmônica e prazerosa educandos e professores surdos com professores e outros profissionais ouvintes?...o ambiente linguístico permite e fomenta essas relações tornando a escola especial tão ou mais inclusiva do que qualquer outra escola.

É fato que a Educação inclusiva não atingiu as metas estabelecidas e previstas pelas  legislações, pois temos observado um cenário educacional em que muitos educadores se encontram despreparados para acolher, aprender e ensinar os alunos que apresentam alguma deficiência; muitas escolas não oferecem acessibilidade arquitetônica e adaptações curriculares que possibilitem o acesso ao currículo. O decreto 5626 de 2005, que regulamenta a Lei da LIBRAS, define que os Sistemas de Ensino devem organizar escolas e classes bilíngues para a inclusão de surdos – onde estão e como estão organizadas essas escolas e classes bilíngues?...diante dessa realidade muitas famílias desistem da escolarização dos seus filhos, porque não observam acolhimento, adequações e avanços nas aprendizagens de seus filhos que estão verdadeiramente segregados em escolas que não atendem as suas necessidades cognitivas e emocionais.

Portanto, continuamos assistindo à exclusão de pessoas com deficiência do processo de escolarização, pois a escola continua apresentando, de um modo geral, a tradicional tendência homogeneizadora e seletiva em relação aos alunos que não se adaptam ao padrão estabelecido. E mais uma vez, as Escolas especiais se encontram ameaçadas pela interpretação dada ao texto da LDBEN (9.394/96) que expressa que a educação das pessoas com deficiência, “preferencialmente,  se dará na rede regular de ensino.

Ainda há uma longa trajetória a ser percorrida para que tenhamos de fato um Sistema educacional e Social inclusivo que atenda às necessidades de aprendizagem de todas as pessoas. Movimentos e lutas surgem há todo o momento com o objetivo de garantir direitos  – dentro dessa proposta, visando a garantia e respeito pelo espaço da Escola especial, bem como a qualificação da Escola inclusiva, a escola Frei Pacífico se agrega e participa ativamente das atividades promovidas pelo Fórum pela Inclusão Escolar: fórum constituído em 2008 com o compromisso de defender a Inclusão Escolar Responsável e a Escola Especial Inclusiva. Têm como principal objetivo aprofundar o tema da Inclusão Escolar com todos os segmentos envolvidos: professores/as, familiares e alunos/as, além de movimentos e atores sociais interessados no tema. O Fórum pela Inclusão Escolar trabalha pela implementação dos planos Nacional, Estadual e Municipal de Educação, pela Lei Brasileira de Inclusão e pela Resolução 13 do Conselho municipal de Educação de Porto Alegre que dispõe sobre as Diretrizes para a Educação Especial no Sistema Municipal de Ensino.

Sintam-se todos convidados a participar desse Fórum e de todos os movimentos de luta pela Inclusão Escolar responsável e pela Escola Especial inclusiva.

Obrigada!

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